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sexta-feira, 19 de março de 2010

O Judiciário agora é circo?

"Dois dias e meio depois da separação, Dervana Dias estava ansiosa para o reencontro com a filha. O choro era de emoção. Mãe, pai e filha pareciam se entender. Os parentes também pegaram a criança.
A criança foi retirada dos pais por determinação da justiça na última segunda-feira e levada para um abrigo. De acordo com uma denúncia anônima ao Conselho Tutelar, a mãe e as outras ciganas pediam dinheiro na rua, no centro de Jundiaí, e usavam a menina para sensibilizar as pessoas. [...]
Nesta tarde os pais da menina terão uma audiência na Vara da Infância e Juventude, no fórum de Jundiaí. Eles vão tentar explicar ao juiz que não pediam dinheiro na rua como foi denunciado ao Conselho Tutelar. Vão dizer também que têm condições de criar a filha.
“Espero que o juiz libere minha filha. Eu tenho condição de criar minha fila”, diz Dervana Dias, mãe da criança."
Essa é parte da transcrição de uma reportagem transmitida ontem na Rede Globo em jornais de transmissão nacional. (Matéria completa)

A notícia transmitida duas vezes para todo o Brasil dá o tom do espetáculo apresentado em volta de uma criança que mal entende o que se passa, a não ser que lhe tiraram de sua família. Não quero comentar se a atitude foi certa ou errada, e só por um motivo: os processos da Vara de Infância e Juventude - todos, sem exceção - estão sob sigilo de justiça, e não é à toa. Trata-se de crianças e adolescentes, que não devem ter sua vida exposta desse jeito, mesmo que sob a 'proteção' da imagem do seu rosto.

Pra falar a verdade, não gosto quando nenhum processo judicial vai a público antes de terminar, principalmente quando a notícia é feita dessa maneira, armando uma tenda em volta do problema dos outros, e por vários motivos:

1. Porque conhecemos a parcialidade da nossa mídia, que não dá notícias, mas comenta os fatos e apresenta sua própria versão. Apresentar uma criança sendo tirada a força dos braços da mãe certamente é comovente, mas ninguém sabe de fato os motivos e as circunstâncias que levaram a isso. A única coisa que eu sei - mas que não ficou clara a todos - é que o processo não acabou.

2. Porque os jornalistas apresentam essas notícias do jeito que eles entendem, e nem sempre é o jeito como as coisas acontecem. A menina pode ter sido tirada da mãe por medida cautelar - quem sabe para que não fujam com a criança - ou liminar - para evitar que a criança continue sofrendo os riscos a que, segundo a denúncia, estava exposta.

3. Porque da forma como foi apresentada a notícia, ficou parecendo que tiraram a criança da família porque não tinham condições de cuidar da menina. O Estatuto da Criança e do Adolescente diz muito claramente que "A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar." (art. 23).

4. Porque uma notícia dessas gera polêmica, e se é mal explicada - como foi - gera ideias erradas, transformando o Judiciário, o Ministério Público, a Polícia e todo o Poder Público no grande vilão da história, afastando-os ainda mais dos cidadãos.

Que grande desserviço.

Um comentário:

Unknown disse...

ECA!! para o desserviço.... ;)